Um dia conheci o Mário, um rapaz alegre. Estudante de representação e a formar um grupo de teatro.
Após um jantar, entre bicas, risos, gargalhadas e vinho, o Mário demonstrou ainda algum “apetite”, comentando ser capaz de introduzir uma das suas mãos, toda dentro da sua própria boca.
Vejam só! Será possível? pensei eu para comigo. E não é que conseguiu mesmo! Satisfazendo a curiosidade dos demais presentes.
Por instantes, lembrei-me do mundo maravilhoso das 24 imagens por segundo – o cinema. Imaginei imagens arrastadas demonstrando o efeito de movimento produzido por uma obturação lenta da câmara, utilizando uma iluminação dura e directa.
De imediato não resisti a pedir-lhe que me deixasse registar fotograficamente a representação que acabara de ver do seu “apetite”. Prontamente se disponibilizou, sorrindo. Marcamos a sessão para uns dias a seguir.
Preparei o estúdio improvisado em casa de um amigo comum; como fundo utilizei umas cortinas pretas. Carreguei a câmara de 35mm com a clássica película da Kodak a preto e branco, Tri-x 400, montei a câmara no tripé, liguei o projector de 500 watts da loja do Aki comprado para o efeito.
O Mário tirou a t-shirt e colocou-se em tronco nú. Enquadrei de forma a tê-lo a meio corpo no visor, foquei e medi a luz. Pedi-lhe então que começasse.
Pouco a pouco ia introduzindo a sua mão direita na boca, tal como tinha feito dias antes no restaurante. Enquanto o fazia a assistência aumentara, não só estava eu, ele e o nosso amigo, como também mais duas amigas acabadas de chegar, que não paravam de rir espantadas com tal cena.
Fotograma após fotograma o Mário foi “desaparecendo”, senti que a sessão estava a correr-me bem. A utilização de várias velocidades lentas permitiam-me pensar que sim.
O efeito de movimento foi tal que ao fim de uma hora e meia e alguns rolos, o Mário desapareceu ficando apenas o fundo escuro do cenário.
O Mário só foi encontrado no dia em que revelei a película. E não era para menos, com tanto meter e tirar a mão da boca, o coitado fugiu esfomeado.
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